.
2014
Este projecto multi-disciplinar focou-se na investigação e criação de rotas ligadas a uma via romana que atravessa os concelhos de Miranda do Douro, Mogadouro e Freixo de Espada à Cinta – o chamado Carril Mourisco. Enquanto antropólogo/ etnógrafo percorri os seus 80km recolhendo práticas e histórias sobre a sua utilização quotidiana durante o século XX.
Caminho de ladrões e de almocreves, o Mourisco no seu trecho final, antes de chegar ao Douro, torna-se na mítica Calçada de Alpajares, que diz a lenda foi construída numa noite em troco da alma de um viajante… outras histórias são contadas sobre o Carril, muitas delas passadas quando este era a via de principal de acesso e trânsito pelo planalto Mirandês.
“Indo you la sierra arriba, delantre de mie piara, repicando no caldeiro, remendando mei çamarra/ Bie assomar uma lhoba, eilha mais lhiêba que parda…” (MD)
“Os almocreves vinham pelas eiras de trás. Éramos garotas e tínhamos medo de ir para lá. Tínhamos medo que atraiçoassem por sermos garotas. Diziam: – Anda cá que vamos-te meter nas alforges!” (Vila de Ala – Mog)
“Quando ao passar por uma encruzilhada se tem grima (ficar assustado) dizer:
– Olhei para trás e vi, não foi para te ver a ti. Foi para ver o anjo da guarda que vem ao pé de mim.” (Constantim – MD)
“Sim. Para ir à feira de Mogadouro passava-se a Ponte dos Almocreves.” (Bruçó – MD)
“Saíamos daqui à uma da manhã em grupo. A correr por esses caminhos. Ficávamos em Castelo Branco a tocar e dançar. Quem estivesse a dormir, acordava tudo.” (Lagoaça – FEC)
“Uma senhora encheu sacos com terra e pôs-se no animal. E foi de besta até ao Naso com os pés nos sacos e disse que foi descalça até ao Naso. Ouvi dizer que ia, que iam a pé, e diz que ganhou a promessa.” (Bruçó – Mog)