Ribeiradio-Ermida
Investigação
2012 - 2015
Eu fui o responsável pela investigação antropológica, supervisionada pelo IGESPAR, no âmbito das medidas de minimização da construção do Aproveitamento Hidro-eléctrico de Ribeiradio-Ermida, no centro de Portugal. Abrangendo os concelhos de Sever do Vouga, Oliveira de Frades, São Pedro do Sul e Vale de Cambra, a sua construção afecta contextos rurais de exploração agrícola e florestal. Contudo num passado recente, do qual existem vestígios por toda a zona, existiam quintas, caneiros, moinhos, currais-palheiros, barqueiros, um engenho de linho e pequenos lugares, entre muitos outros, que povoavam um vale rico em vida natural e humana. Do lado humano, não só vestígios materiais foram encontrados mas também muitas histórias, técnicas e lendas que definiam o modo de relacionamento dos habitantes locais com um paradisíaco espaço ribeirinho.
O relatório final, previsto para publicação em livro, é composto por três grandes capítulos: Habitações humanas; Práticas sócio-económicas; e Religião Popular. A narrativa etnográfica baseia-se em 180 entrevistas com habitantes de toda a área afectada e mune-se da citação directa destas para conduzir e embrenhar o leitor num universo já desaparecido, quer socialmente, quer fisicamente. É um texto que procura, tal como os meus documentários, dar espaço aos habitantes locais para contarem as suas memórias, valorizando os seus saberes e experiências e procurando equilibrá-los em importância com o discurso omni-presente do investigador.
“Os rapazes novos pegavam nuns cabaços, no monte do Cadafaz a gritar: - Olha o Victor anda com a Maria de não sei onde mas ela põe-lhe os chavelhos com o não sei quem... Era onde se descobria, dava muito barulho no dia seguinte malhavam uns nos outros. Acabou quando eu era pequenina (60’s). De noite foram gritar aos cabaços, gritar: - Olha o louro, olha o louro! Foi apanhado atrás da pipa mais a caseira” (Ribeiradio).
“Às vezes de noite ouvia pumba como se fosse um boi a mandar-se à água e atravessar o rio. Alguma coisa é que um peixe ou lontra não faz isso. Isto está a perder de hábito porque o pessoal está a desistir. Quem vai vai, quem está, está” (Pessegueiro). “No meio do rio, à meia-noite, passava-nos tudo pela cabeça, do bem e do mal” (Pedre).